quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

Pra caipira nenhum botar defeito!

Mais um show pro Hall dos shows perdidos. As fontes indicam que foi excelente o show de aniversário de São Paulo, com Nação Zumbi, Tom Zé e os Mutantes, na última quinta-feira, dia 25. Por motivos de força maior não pude comparecer, mas o comentário geral foi positivo. Ao que parece, Zélia Duncan não deve nada à Rita Lee, e o Tom Zé continua louco. E a boa notícia é que talvez Sergio Dias e sua trupe percorram o Brasil numa turnê. A esperança é a última que morre.

De todo modo, já me considero recordista em perder shows bons. Entre eles estão Strokes, Eric Clapton, Deep Purple, Cake, Chico Buarque, dois do B.B King, e muitos outros que eu não me lembro agora. Houve também um show que eu perdi sem saber que estava perdendo. Na verdade eu ainda não os conhecia, mas logo que ouvi Kings of Leon, amaldiçoei a minha ignorância por ter perdido o show deles no TIM Festival, em 2005.

Não sou nenhuma referência cultural, e também não estou chamando você, caro leitor, de ignorante. O que eu quero aqui é frisar o quanto eu gostei do som dos caras. Isso porque é um som diferente, irrotulável (olha o neologismo ai, gente!). É aquele tipo de música que quando você ouve pela primeira vez fica impressionado e ao mesmo tempo confuso, tentando assimilá-lo.
Pra começar, a origem do Kings of Leon é bem diferente do comum. Não são nem californianos, nem ingleses, nem dos morros do Rio de Janeiro. Os caras são caipiras. Do Tenessee. É a mesma coisa que dizer que alguém é do Acre. É duvidoso. Pra deixar a coisa ainda mais estranha, três deles são irmãos e tem também um primo no meio. Mas fique tranqüilo, o som não se parece nada com Hanson. O mais marcante no som do Kings of Leon é o vocal escrachado. Fora isso, tem guitarrinhas que oscilam entre o rock n’roll e o country, batidas fora do comum e letras levemente pornográficas.

A banda é relativamente nova. Eles têm dois discos e o terceiro será lançado em abril. Apesar de não serem muito conhecidos no Brasil, lá fora eles estão tocando com gente como Pearl Jam e Bob Dylan.

Algumas sugestões pra começar a ouvir são Molly’s Chambers, Spiral Staircase e Red Morning Light, do primeiro disco, Youth and Young manhood. Pro segundo disco, Aha Shake Heartbreak, as sugestões são Slow Night so long, Pistol of Fire e King of The Rodeo. Mas ambos os discos podem ser ouvidos sem interrupção. É coisa fina, eu garanto!

Bom, por hora, é o que tenho pra sugerir. Obviamente eles não vão salvar o mundo do funk e do axé, mas fazem música pra caipira nenhum botar defeito. E são tão reais quanto o Acre.

Abraço!

Ps – A partir de hoje colocarei uma sugestão de playlist ao fim dos posts.


Sugestão de Playlist:


-Kings of Leon – Holy Roller Novocaine

-The Beatles – All Together Now

-Queens of the Stone Age – You think I ain’t worth a dollar, but I feel like a millionaire.

-Eric Clapton – Swing Low Sweet Chariot

-João Gilberto – O Barquinho

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Clássico dos Clássicos

- Texto previamente publicado na última edição do jornal ESPMiano de maior tiragem em 2006, o Sr. Laranja -
Sou de uma geração que conserva o saudosismo de uma época que não viveu, que admira grandes ícones já mortos, e que ouve as músicas eternizadas pela memória de nossos pais. Enfim, uma geração que queria ter vivido em outra época. Em tempos em que a boa música é uma espécie rara, ameaçada de extinção, resta a nós, jovens saudosistas, lembrar dos discos que quebraram paradigmas e marcaram época. Venho aqui lembrar de um desses discos.

É um clássico. Uma verdadeira obra de arte, assinada não por um, mas por quatro artistas. Sua presença entre os 10 maiores discos de todos os tempos é indiscutível. E se existe alguma lista no mundo que não inclua esse disco, há de ser a lista dos piores. Aliás, se existe alguma lista no mundo que não inclui os Beatles, essa lista é malfeita. Até porque, na última lista dos 10 maiores discos de todos os tempos, publicada pela BBC em agosto, os rapazes de Liverpool apareciam com 4 de seus discos. Daí vem a dúvida: “mas qual disco é esse?” afinal de contas, dizer que um disco deles é genial é, no mínimo, redundante. Os discos falam por si sós. Os Beatles falam por si sós. O Abbey Road fala por si só.

Sim, o Abbey Road. Aquele disco cuja capa mostra os quatro Beatles atravessando a rua, repleto de mitos e indícios da morte de Paul McCartney. Um apanhado de canções geniais, considerado por mim e por muitos, o melhor disco dos Fab Four. O disco no qual os Beatles voltaram às suas raízes, as raízes do bom e velho rock n’roll, e fizeram o melhor lado B da história do vinil. A ode, portanto, é justa e inevitável.
O Abbey Road é o penúltimo disco lançado pelos Beatles, mas o último a ser gravado, depois do Let it Be (uma jóia também). Sua história envolve toda a lenda de que Paul McCartney teria morrido e sido substituído por um sósia, Billy Shears, que é inclusive citado na música “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”. Na capa, há vários indícios da morte de Paul, como por exemplo, o fato de ele ser o único andando descalço, com um cigarro na mão direita (sendo que ele era canhoto), e os demais Beatles representando o médico (John), o Padre (Ringo) e o coveiro (George). Muitos (inclusive Kotler) dizem que foi uma grande estratégia para alavancar a vendas do disco, mas isso é assunto pra outra discussão.

O fato é que o Abbey Road é um disco de retorno às raízes. Já diria George Martin que os Beatles voltariam a tocar como “nos velhos tempos”, ou seja, livres das discussões e brigas que vinham acontecendo (com certa freqüência). E como resultado dessa postura surge este magnífico álbum.

É no Abbey Road que ouvimos a maior contribuição de George Harrison aos Beatles, não só com músicas como Here comes the sun e Something, mas também com pequenas frases de guitarra e vocais afinados. Além de ser o mais legal dos Beatles, George se supera nesse álbum. Ringo também contribui com Octopus’s garden, a segunda música assinada pelo baterista, que narra um passeio pelo fundo do oceano. O impressionante é como essa música realmente lembra o fundo do mar, ainda mais com os vocais em gargarejo na parte do solo.

Mas as demais composições de Paul e John não ficam para trás. Come Together, por exemplo, é genial. A faixa de abertura do Lado A é, basicamente, uma variação de blues com o baixo marcante, solinhos de guitarra fenomenais e letras nonsense, além de um tecladinho inebriante pós-refrão.

Outro exemplo é I want you (she’s so heavy), escrita por Lennon. Trata-se de uma música de poucas palavras e uma das melhores do álbum. É hipnotizante, com um tom mais pesado, que depois se transforma numa longa sucessão de “climas”. A voz acompanha o fraseado da guitarra, percorrendo quase toda a música, que dura cerca de 7 minutos.

Há também baladas românticas, como Oh Darling!, mais ao estilo anos 50, com um piano intermitente, guitarras secas e algumas doses de vocais gritados por Paul (When you told me / You didn't need me anymore...).

Todas as canções merecem sua menção, seja Maxwell’s Silver Hammer, com suas guitarrinhas caipiras e batida circense, Because, com seu tom grave e triste, ou You never give me your money que abre o Medley do Lado B com genialidade.

Aliás, cabe aqui uma descrição precisa do medley do Lado B, por que ele é talvez a seqüência de músicas mais impressionante que já ouvi na vida. As más línguas dizem que esse medley desagrada John Lennon pelo fato de ter sido criado quase que exclusivamente por Paul McCartney, mas eu discordo, já que é impossível não gostar dessa seqüência. De fato, é incrível como as pequenas canções se desenvolvem e se complementam, resultando numa narrativa musical considerada por muitos como o clímax do álbum.

O Medley começa com You never give me your money seguida por Sun King, cantada em italiano, Mean Mr. Mustard (such a mean old man! e Polythene Pam. Em seguida vem She came in through the bathroom window (escrita depois que uma fã literalmente entrou na casa de Paul pela janela), Golden Slumbers e Carry that weight. E para finalizar o medley, nada mais justo que The End, com um solo de bateria de Ringo e ainda um jam de solos de guitarra feitos por Paul, John e George, que levam qualquer um à apoteose.

Depois do medley, Her Majesty, uma pequena vinheta de 20 e poucos segundos com voz e violão, termina o Abbey Road em sol.

E ai eu sempre fico esperando o próximo acorde, com cara de besta, absorto, imaginando: “como é que esse disco foi feito?”.

OBS – Pra quem ficou curioso, veja aqui a lista dos TOP 10 discos de todos os tempos, divulgada em agosto pela BBC.
Download - The Beatles - Abbey Road

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

O Carioca

Dia desses, resolvi procurar alguma coisa nova. Estava ávido por uma música diferente, inquieto com os mesmos artistas e bandas, e saturado com as notícias recorrentes da tragédia no metrô que a CBN veiculava. Intrépido, mergulhei de cabeça nas gavetas da minha cômoda, e comecei a vasculhar o invasculhável. No meio da algazarra, me surge um CD. O que eu estava procurando sem saber. Acabei por encontrar o novo no velho. O bom e velho Chico Buarque.
No meio das minhas memorabilias engavetadas, encontrei o Carioca, disco novo do Chico, que por algum motivo eu mal tinha escutado. Talvez por preconceito, depois de ter ouvido tantas críticas , ou por esquecimento mesmo. O fato é que ele estava ali, na hora certa, justamente alguns dias depois de eu ter escutado a Ópera do Malandro em vinil, que dispensa comentários.
Comecei a ouvir Carioca com um pé atrás, e devo dizer: realmente é um disco difícil de se ouvir. É daqueles que se pula algumas faixas, mas não é de todo o mal. Pra falar a verdade, tem algumas coisas bem legais. O grande problema do disco é o passado do seu autor.
Já virou chavão dizer que o Chico é unanimidade e que toda unanimidade é burra. A coisa chegou a tal ponto que as expectativas superam o realizável. Hoje, qualquer coisa menor que "construção", por exemplo, é lixo. As expectativas superaram o realizável, ainda mais depois de anos sem produzir nada. Porra! não é possível compor pérolas a vida toda.
Eu já nasci no tempo em que as pérolas estavam consagradas. Conheço um bom resumo da obra, mas não a sua plenitude. E meu amigo Didi que me corrija se eu estiver errado, mas o Chico já fez outras coisas menos brilhantes.
Apesar das críticas, Carioca é um disco coeso. Não tem nenhuma composição de arregalar os olhos mas também nada para se torcer o nariz. As faixas se relacionam bem. Há, claro, algumas exceções, como "Ode aos ratos", que não se parece com nada do disco, mas é bacana. Mostra o lado "moderninho" do nosso Chico. Há também coisas bonitas como "as atrizes" e "Ela faz cinema". Tanto as melodias quanto as letras são bem elaboradas. Talvez um pouco menos harmônicas, mas sem dúvida interessantes.
É injusto dizer que o Chico perdeu o dom, que não sabe mais fazer música, que seu tempo já passou. Isso, porque niguém que o criticou - eu, inclusive - tem propriedade suficiente para julgá-lo. Carioca pode não ter sido o seu auge, mas definitivamente não é o seu fim.
A turnê do disco acabou em São Paulo, e eu perdi. Mais um show que talvez eu nunca veja na vida, junto com muitos outros, por motivos geográficos ou de óbito. Mas esse não. Besteira minha foi acreditar nos outros. Melhor ouvir antes de falar. Aliás, se eu fosse você, não me escutava e ia logo tirar minhas próprias conclusões.

Abraço!

quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

Chorão, cantores-atores e o aquecimento global

Buenos..

Aqui vai o primeiro post "encorpado" desse blog. E o tema é deprimente.

Não sei porque hoje acordei com a imagem do Chorão na cabeça. Sim, o Chorão, aquele gordo bobo do Charlie Brown Junior. Talvez eu tivesse pensando em escória, e ai veio esse nome na minha cabeça. Ocorre que, pra mim, esse cara é um grande contribuinte na depreciação da música brasileira. Porque? Porque ele sabe fazer música ruim. Ele escreve mal. Ele canta a música tema de malhação. E agora resolveu fazer uma ponta de roteirista. Ou seja, não contente em ser um pseudo-músico, skatista, maloqueiro, dependente químico e atropelador de jovens, o cara ainda quer estragar também o cinema nacional. Bom, pelo menos ele não resolveu atuar também. Menos mal.

Aliás, essa história de músico virar ator é uma merda. Temos o Justin Timberlake (quem?), a Hillary Duff, o Eminem, e também a Marjorie Estiano. Essa última eu não sei o que fez primeiro, mas não deveria ter feito nenhum dos dois. Há também o caminho inverso, como fez o nosso amigo Dado Dolabella, que gravou o disco "Dado para você", amplamente divulgado em talk-shows e pela internet.

O que eu tô querendo dizer aqui é que o Brasil e o mundo estão em estado de calamidade. Como se não bastasse o aquecimento global e o fim da água, o homem agora resolveu acabar com a cultura. Até a natureza está reagindo. O que será dos nossos filhos? É preciso tomar uma atitude, ou passaremos os resto dos dias condenados, assistindo malhação e contando quantos yeahs o Chorão fala por minuto.


Perai. Acho que isso já está acontecendo.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

On Air


Um, dois, um dois, som...

Os nível extremo de ócio me levou a criar um blog. Não é o primeiro nem o último a ser criado, e também não vai mudar o mundo. Provavelmente ninguém irá ler nunca esse Blog, mas a missão aqui é tentar trazer o pouco que sobrou da boa música, em tempos de canções nefastas e subversivas de bandas como Calypso e Simple Plan. Além disso, a intenção é também resgatar os fragmentos das coisas boas que já passaram e sobrevivem aos trancos e barrancos na memória dos mais lúcidos. Se for do seu interesse, comente, leia, faça sugestões e divulgue.

Em breve, um post mais significativo e mais interessante.