quinta-feira, 29 de março de 2007

O show do ano

Se pudesse definir em uma palavra, seria sublime. Ou talvez genial. Fico na dúvida, pois não me vem à cabeça uma palavra que exprima as duas coisas. Adjetivos não faltam, mas nenhum deles expressaria por completo o que foi Roger Waters no Morumbi. Nem mesmo um livro expressaria tudo. Uma resenha então, seria um ultraje, um atrevimento. Mas eu me atrevo a tentar explicar o que foi, e como foi essa experiência inigualável.

Os portões do estádio abririam às cinco da tarde e o show começaria por volta das 9 da noite. Chegamos ao local às 7 da noite, 50 reais mais pobres, depois de 2 km de caminhada e 1 hora de trânsito. O Morumbi era um completo caos. Cambistas, comerciantes ambulantes, policiais, pequenos maloqueiros, velhacos roqueiros e outros fãs dividiam o espaço. Por entre a multidão, caminhamos em direção ao portão 6, setor laranja. Obviamente, era o setor mais distante de onde estávamos, e a fila quase completava 2 km de extensão.

Depois de alguns minutos na fila, entramos no estádio, munidos de guloseimas e bebidas para esperarmos o início do show. Fomos surpreendidos pelo segurança, que alertou que as guloseimas estavam liberadas para consumo dentro do local. As bebidas, por sua vez, estavam proibidas. Na verdade, a água estava liberada, mas as garrafas e copos não. Lembrei-me que estava no Brasil, e conformado, entrei com um litro de água flutuando ao meu lado. Dentro do estádio, o copo d’água aumentava um real a cada meia hora, começando em 2 reais.

Resumindo: Puta organização.

Ao sentar na arquibancada, olhei para o palco e vi uma cena ordinária. Uma garrafa gigante de Black Label, um copo gigante de uísque, um cinzeiro gigante recheado de bitucas gigantes, e um rádio (gigante, é claro). Enquanto isso, o estádio enchia e eu podia invejar os indivíduos mais providos se alocando na área VIP, a aproximadamente 3 metros do palco.

Por volta das 20:55, o cinzeiro gigante começou a soltar fumaça.

"Nossa, tem uma fumacinha saindo do cinzeiro. Como será que eles fazem aqu... Puta que pariu!" Um braço gigante apareceu no palco, pegou um cigarro e o copo de uísque. Não era possível, não podia ser real. E não era. Era um enorme telão, com a melhor definição que eu já pude sonhar um dia.

Alguns rocks depois, apagaram-se as luzes e a música ambiente parou. O estádio se transformou num breu eufórico, à espera do homem. Às 21:05, o estádio explodiu com In the Flesh e seus martelos marchantes. Em seguida, Mother acalmou os ânimos e convidou o público a cantar junto. Depois, Set the controls to the heart of the sun, com seu clima misterioso trouxe diversas fotos dos primórdios do Floyd, com Syd Barret na formação.

Na sequência, Roger aplica uma boa dose de adrenalina ao executar Shine on. Essa música em especial foi foda, ainda mais com os timbres que David Kilminster tirava daquela telecaster creme. E o Morumbi ecoava com os gritos de "Shine on you crazy diamond!". Depois, surpreendendo a todos, "Have a cigar", e novamente o diabo das guitarras deu um show à parte, enquanto Roger gritava do fundo da alma "Come in here dear boy, have a cigar, you're gonna go far...".

A mão gigante surgiu no palco novamente e começou a trocar as rádios, denunciando o início de Wish you were here. E logo depois do solo, as pessoas se arrepiavam ao cantarem juntas "How I wish, how I wish you were here. We're just two lost souls swimming in a fish bowl, year after year". Em seguida, Roger tocou algumas do Final Cut e da sua carreira solo, que francamente, não conheço muito bem. Mas Southampton dock, The Fletcher memorial home e Perfect sense foram executadas com a maestria de sempre do velho Roger.

Depois disso, o frontman anunciou que tocariam uma música nova. E que música, diga-se de passagem. Leaving Beirut, apesar de desconhecida, fez o estádio tremer. Frases como "Oh George! Oh George!That Texas education must have fucked you up when you were very small" revelaram a enorme crítica a Bush, e pra completar, o pequeno Andy Fairweather Low dilacerou sua guitarra num solo inacreditável.

Pra não perder o clima, Roger surpreendeu novamente tocando Sheep. Ninguém imaginava, e a coisa se tornou mais inacreditável quando o enorme porco rosa começou a flutuar no céu, repleto de frases como "Hey, Killers, leave the kids alone" e "All we need is education", além de "Bush, o Brasil Não está à venda!" escrito no ânus do 'suíno róseo. E com o porco viajando pelo céu paulistano, a primeira parte do show se encerrou.

Na segunda parte, 15 minutos depois, sabíamos que o Dark Side of The Moon seria executado por completo. A lua no telão crescia exponencialmente, e quando estava tomando todo o telão, podíamos ouvir as batidas de um coração, que logo foram tomadas pelo clima ameno de Breathe.

Em seguida, os sintetizadores lisérgicos de On the run faziam a contagem regressiva para a entrada de Time. E os relógios marcaram a hora exata do início da música. Pra mim, Time foi um dos grandes destaques. A música foi perfeita, e a maneira como o solo preencheu cada espaço do Morumbi foi fantástica. Kilminster foi foda. Muito Foda.

Pra não cair o nível, The Great Gig in The Sky simplesmente quebrou tudo. A cada grito da vocalista, um arrepio subia na espinha. Genial. E depois a caixa registradora chamou Money. Pra quem gosta de guitarra, foi excelente. David Kilminster, Snowy White e Andy Fairweather Low dividiram os solos, um melhor que o outro, mas novamente o pequeno Fairweather foi o melhor.

Na sequência, Us and Them me surpreendeu. A música já é ótima normalmente, mas da maneira que foi executada, foi um dos picos do show. O coral da banda, somado aos efeitos do telão e de iluminação hipnotizaram o público, literalmente. E Any colour you like trouxe mais uma boa pitada lisérgica pra galera, com teclados inebriantes (como sempre) e solos de guitarra não menos loucos.

Quando Brain Damage começou, o prisma já começava a pairar no cume do palco, e quando Eclipse começou, o show começava a anunciar o seu fim. Da maneira emocionante que foi executada, a música poderia ter fechado o show, mas todos nós sabíamos e estávamos àvidos por um bis.

E o Bis veio, com as crianças do projeto Guri, cantando junto com todo o Morumbi "Hey, teacher, leave the kids alone!". Logo em seguida, ninguém imaginava novamente que Roger tocaria Vera. E tocou, trazendo na sequência Bring the Boys Back Home. Meu deus, aquilo foi impressionante, foi a representação perfeita do triunfo e da glória. Inacreditável. E com o fim da música, escutamos aquele "Hello" que já esperávamos. Comfortably Numb veio pra fechar com chave de ouro a apresentação. Mas trouxe junto uma tristeza, um sentimento saudoso. O show de 2002 foi superado, sem sombra de dúvidas.

Roger enrolou-se na bandeira brasileira e se despediu. E as pessoas, pouco a pouco saiam do transe e começavam a andar em direção à rua. Tudo voltou ao normal, a mesma bagunça da entrada. Mas cada um saia dali diferente, novo, revigorado. E com a esperança que Roger volte daqui mais 5 anos, com um espetáculo ainda mais avassalador, e quem sabe, com David, Richard e Nick.

Abraço!

Sugestão de playlist

Roger Waters - Leaving Beirut
Queens of the Stone Age - First it Giveth
NOFX - Glass War
Mutantes - Deixe entrar um pouco d'água no quintal
Eagles - Hotel California

quinta-feira, 22 de março de 2007

Listinha fétida

Добро пожаловать!
Melhor ainda, Willkommen!
A carga de afazeres cresce em progressão geométrica, e o tempo se reduz na mesma proporção que as calotas polares derretem. Como consequência, a falta de tempo traz a falta de pauta. Mas pra não passar em branco, resolvi fazer aquelas listas mega-nerds sobre alguma coisa. Não é nenhum "Top 10 animais em extinção", tampouco "As 20 barrigas mais brancas do hemisfério sul". É só uma listinha suja dos 15 solos de guitarra que eu mais gosto. Nada mais.
Pra não me estender muito, ai vai, em ordem inversa, é claro:
#15 - Beatles - The end
#14 - Queens of the stone age - God is on the radio
#13 - Pink Floyd - Confortably numb
#12 - Jimi Hendrix - Hey Joe
#11 - Creedence Clearwater Revival - I heard it through the grapevine
#10 - ACDC - Back in Black
#09 - Sublime - Date Rape
#08 - Deep Purple - Highway Star
#07 - B.B King & Eric Clapton - Hold on’ (I’m Coming)
#06 - Dire Straits - Sultans of Swing
#05 - Bob Marley - No woman no Cry (ao vivo)
#04 - Red Hot Chilli Peppers - Aeroplane
#03 - The Beatles - While my guitar gently weeps
#02 - Pink Floyd - Shine on You Crazy Diamond
#01 - Eagles - Hotel California (original)
Bom, é só isso. Não vou me justificar porque listas são complicadas. Sempre vai haver injustiça, sempre vai faltar alguma coisa, e sempre vai ter um mané insatisfeito (você). Se discordar, expresse a sua opinião, chame os principais veículos de mídia ou simplesmente faça a sua!
OBS: Essa já é uma sugestão TRIPLA de playlist. Aproveite.
Abs

quinta-feira, 15 de março de 2007

Iniciativa Alternativa

- Iniciativa Alternativa -

- - Iniciativa Alter Nativa - -

- - - Iniciativa Alter na Ativa - - -

- - - - Inicia ativa a Alternativa - - - -

Isso mesmo, é sobre isso que eu vou falar hoje.
Outro dia um amigo sugeriu que eu postasse alguma coisa sobre o Teatro Mágico. Conhecia só de nome, mas fui lá bisbilhotar no Emule pra ver o que eu achava. Achei um arquivo com uma penca de coisas. Algumas sem o nome do disco, outras que pareciam demos, gravações ao vivo, e algumas coisas recentes, acredito.

Comecei a ouvir e até gostei do som. Letras muito, mas muito interessantes também. Aí comecei a pensar: "Ora, o teatro mágico não é apenas uma banda, é um espetáculo. É teatro e música. As duas coisas juntas." E então percebi que seria no mínimo injusto falar sobre o Teatro Mágico sem ao menos conhecer o espetáculo. Estaria perdendo a metade da coisa se falasse apenas sobre a música. É como não conhecer da missa a metade e ainda por cima querer ensinar o padre a rezar.
Tenho certeza que Fernando Anitelli e seus capangas dão um belo de um show. Nunca ouvi uma crítica ruim sobre o espetáculo, mas ainda não tenho uma opinião formada. Sendo assim, proponho a você, caro internauta, uma outra discussão.

Sou natural de Mogi das Cruzes, 50 Km de são Paulo, uma das cidades que integra a região da grande Itaquaquecetuba. Foi lá que participei de bandas e comecei a acompanhar o cenário musical. Por lá, tem surgido muita coisa interessante sobre música, principalmente na cena alternativa. Eu digo alternativa porquê tem surgido bandas que não tocam Axé, Pagode e Funk. É claro que existem bandas destes gêneros por lá, afinal, erva daninha tem em todo lugar. Mas as bandas que eu vejo por lá tocam Rock com erre maiúsculo. O bom rock n' roll com umas pitadas de influências diversas. Peço licença aos integrantes das bandas pra citar alguns exemplos, como o Mentecapto, do meu saudoso amigo Resek, o Motocontínuo, e o Hierofante Púrpura, com ex-integrantes do FUD.
O Mentecapto toca o que parece pra mim um bossa-Rock-Hype-sei-lá-oque de ótima qualidade com riffs de guitarra pouco usuais. Eu sei que é uma merda rotular sons, só ouvindo pra saber mesmo. Já o Motocontínuo tem uma pegada mais agressiva, visceral, lembrando um pouco Queens of the Stone age, com um tecladinho inebriante que entra no cérebro rapidamente. E o Hierofante tem um som suave e lisérgico ao mesmo tempo, com coros de voz contagiantes.
Esse assunto me veio à cabeça porque outro dia eu recebi um e-mail de um cara chamado Tuca Araújo, que viu minha página no Trama Virtual e me indicou o som dele. O cara faz um som instrumental e toca todos os instrumentos que aparecem nas músicas. Ele está inclusive lançando um álbum com essas músicas, que é excelente. Por motivos óbvios eu não vou dar o endereço da minha página aqui, mas se você quiser conhecer o trabalho dele clique aqui.
E aproveitando, vou puxar a sardinha pra um sonzinho caseiro que eu gravei um dia desses, uma composição em parceira com o já citado Resek. Basta clicar aqui para baixar.
Vou ficando por aqui, lembrando que o som alternativo é a saída, o caminho da salvação contra todas as tentações que a indústria fonográfica tenta nos oferecer. Alías, lembrei de uma atrocidade que ouvi outro dia. Acreditem ou não, mas a Avril Lavigne, aquela pirralha metida a rebelde, gravou uma música com palavras em Português. Ela agora canta a música "Girlfriend" jurando que quer ser sua namorrrrrada. Clique aqui e chore.
Abraço!
Sugestão de Playlist Alternativo (Clique nos links pra baixar e ouvir)

Mentecapto - Vulgo Mentecapto
Motocontínuo - O dia da partida
Hierofante Púrpura - Muleta de Espinhos
Tuca Araújo - Choro para Bach

sexta-feira, 9 de março de 2007

Meme - Jorginho Bush

Good Morning, Good Morning,
Nesta manhã ilustre recebi um convite para participar de um Meme. Provavelmente agora você deve estar se perguntando duas coisas. A primeira delas é: Meme? Meme. Aprendi hoje cedo o que é. De acordo com o dicionário V. Marianus:

Meme,

do Inglês. Meme
s.f - Um blogger chama outro para postar sobre um tema. Como uma corrente de visões sobre um determinado assunto. A abordagem deve ser a original do blog, para que dê identidade a discussão.

Na realidade, o termo foi concebido pelo cientista Richard Dawkins, que se referia a "uma unidade de informação cultural transferível de um cérebro para outro". Sendo assim, um post pode muito bem ser um meme que gerará muitos outros memes, como é o real intuito da coisa.

Mas voltando às suas indagações. Sua segunda pergunta deve ser "porquê manhã ilustre?". Bom, como você bem deve saber, hoje estou compartilhando o terreno da minha cidade com ninguém menos do presidente dos United States of America. O mito, o justiceiro, o piedoso, o intragável George W. Bush, e junto com ele sua comitiva de comedores de bacon. É justamente esse o tema do meme.

George Bush veio ao Brasil fazer nada. Talvez discutir um bocadinho sobre Etanol, não reduzir nenhuma taxa, trocar babaquices com nosso presidente e fazer frente contra Evo Morales. No mais, ele só veio atrapalhar. Como disse José Simão, Bush veio ao Brasil discutir o álcool e já engarrafou São Paulo.

Mas aqui a abordagem vai ser outra. Aproveitando o formato musical do blog, lembrei-me do NOFX, banda Californiana de Punk Rock, que ocupa um lugar na vanguarda dos opositores do governo Bush. O NOFX tem lançado álbuns carregados de críticas ao presidente Norte-americano, além de ter criado a camiseta "Not My President" como uma resposta ao fenômeno mundial de "antiamericanismo", ainda mais acentuado durante o governo Bush e suas "intervenções humanitárias". A banda também organizou o site Punkvoter e a coletânea Rock Against Bush, que deu origem à turnê homônima. Ou seja, os caras são uma pedra no sapato de couro de jacaré do Jorginho.

Apesar das enormes diferenças financeiras, militares, tecnológicas, etc, os Estados Unidos têm algumas coisas em comum com o Brasil. Eles têm um presidente tão ou mais imbecil que o nosso, e um povo ignorante o suficiente para reeleger esse presidente, como acontece aqui no Brasil. Por outro lado, eles têm alguns poucos indivíduos que se preocupam com o rumo da nação, e fazem alguma coisa a respeito, ao contrário dos brasileiros, que só reclamam.
Ficam então duas lições pra você. Primeiro, ouça NOFX e preste atenção nas letras. Segundo, você pode sim fazer alguma coisa. É só tomar a iniciativa. Leve essa visita do Bush como um convite à ação. Ou você quer ver mais gente fuder com o Brasil, como fez o Morales, e ainda vai fazer o Bush?

Obs: Eu fui convidado para esse meme pelo Vini, que por sua vez foi convidado pelo Ourinhos. Ainda pretendo convidar o Polas e o Ferrite. Mas tem textos de muita gente, como do
Caio Casseb, Pai Simão (o Mineiro), Guilherme Tomé, Sté Fernandes, Vincent e Drudi, que eu ainda não li e você também podia ler.

Abraço!

Sugestão de Playlist:

Jeff Beck - Black Cat Moan

NOFX - You Will Lose Faith

Ira! - Bebendo Vinho

John Lennon - Give Peace a Chance

Motocontínuo - O dia da Partida (você vai achar no Purevolume)