sexta-feira, 28 de março de 2008

Antropofagidelic-Folk-Rock

Viajei no título, mas dá-lhe a antropofagia que nós brasileiros tanto adoramos...


Nosso personagem de hoje é um excelente exemplo de antropofagia, não por seus hábitos alimentares, mas por sua origem e trajetória. Aos 26 anos de idade, Devendra Banhart já gravou 7 álbuns fora os Eps, e é um dos principais ícones do New Weird America Movement. Nascido no Texas, Devendra passou sua infância na Venezuela, para depois retornar aos Estados Unidos, desta vez em San Francisco. Não por acaso, o rapaz é bilingue e ainda arranha um português.

Digo que Devendra é antropófago pelo som que faz. Com um punhado de Folk, mais uma boa dose de Tropicália e uma pitada de Rock, ele produz um Folk Psicodélico sem precedentes, fortemente influenciado por Bob Dylan, Novos Baianos, Mutantes, Secos e Molhados, e por ai afora.

Feitas as apresentações, vamos ao álbum, que é o que interessa.

Em setembro de 2007 nosso protagonista lança Smokey Rolls Down Thunder Canyon, seu trabalho mais recente. Foi justamente por esse álbum que conheci a música de Devendra (amigo íntimo já), uma vez que todas as referências que recebi eram favoráveis. Baixei o álbum da internet e confirmei minhas expectativas de que era um disco do caralho.

O Folk predomina claramente, pelas harmonias simples em violão, mas neste álbum, mais do que nos anteriores, há presença de mais instrumentos. Há também uma série de participações interessantes, como Nick Valensi do Strokes, Rodrigo Amarante do Los Hermanos e Gael Garcia Bernal (sim, o ator). O resultado é um disco bem original e harmônico.

Samba Vexillographica (com Chris Robinson do Black Crowes), traz uma boa influência de - pasmem - samba. Já Rose (com o Amarante) tem um tom grave e o portunhol de Devendra. Com Saved o ouvinte se sentirá no banco de uma igreja no Mississipi, escutando o tradicional coral gospel. E em Seahorse ouvimos algo parecido com uma jam de Jazz e Classic Rock. Além dessas, mais uma penca de loucuras totalmente compatíveis com um ouvido rigoroso e bem treinado.

Enfim, não há muito mais o que dizer. Disco bacana, artista criativo, influências boas, participações interessantes, download grátis e preguiça de escrever.

Tracklist:

1. Cristobal (com Gael García Bernal)
2. So Long Old Bean
3. Samba Vexillographica (c/ Chris Robinson do Black Crowes)
4. Seahorse
5. Bad Girl
6. Seaside
7. Shabop Shalom
(c/ Nick Valensi do Strokes)
8. Tonada Yanomaminista
9. Rosa
(com Rodrigo Amarante do Los Hermanos)
10. Saved
11. Lover
12. Carmensita
13. The Other Woman
14. Freely
15. I Remember
16. My Dearest Friend


Abraço!

Sugestão de Playlist:

1. Devendra Banhart - Seahorse
2. ACDC - Rock n' Roll ain't noise pollution
3. Ney Matogrosso - Corrente
4. QOTSA - The Blood is Love
5. Black Crowes - Remedy

terça-feira, 18 de março de 2008

70's in the Mid 00's

Diretamente de um passado não tão distante (...)

Ok, Ok amigos. Confesso que esse espaço foi um pouco negligenciado nos últimos dias, por conta de questões paralelas, mas eis que volto com mais uma pérola para os ouvidos mais atentos. Dessa vez, não é nenhuma grande descoberta. Como já antecipa o subtítulo, é algo resgatado de um passado até que próximo, que inclusive já bateu nas paradas do mainstream, mas está longe de esbarrar no Pop.

Em 2005, enquanto as bandas Hype/alternativas bombavam na agenda musical – com lançamentos de álbuns de Franz Ferdinand, Kaiser Chiefs, White Stripes, entre outros – e algumas bandas como Limp Bizkit e Backstreet Boys tentavam ressurgir, um trio de rapazes australianos ousava resgatar o bom e velho Rock n’ Roll Setentista, e logo de cara já emplacavam Mind’s Eye nas paradas de sucesso.O Wolfmother nasceu para o mundo naquele ano, com o seu debut-álbum homônimo. E chegou dando bica na porta da frente.

Digo isso por que é um puta disco bacana, sem nenhum truque de produtor. Não lança mão de fórmulas de sucesso, ou de pseudo-pioneirismo. É simplesmente Rock n’Roll cru, mas ao mesmo tempo, bem trabalhado. Traz uma forte influência de Black Sabbath (especialmente em Woman) e Led Zeppelin, com distorções sujas, riffs marcantes, teclados (sempre) inebriantes e vocais muy potentes, diga-se de passagem. Tudo isso executado por um Power Trio, formado por Andrew Stockdale (Guitarra e Voz), Chris Ross (Baixo/Teclado) e Myles Heskett (Bateria).

É um álbum relativamente conhecido no Brasil, principalmente pelo clipe de Dimension, que passou um bom tempo na MTV Brasil. Por enquanto é o único disco da banda, que acaba de lançar um DVD ao vivo, e tem planos de lançar mais material ainda em 2008. Fica então essa pérola atemporal para download, que não é nenhuma novidade, mas não podia faltar por aqui. Vale lembrar que a versão Americana tem uma faixa bônus. Essa aqui é a versão Australiana.

Playlist

01. Colossal / 02. Woman / 03. White Unicorn / 04. Pyramid / 05. Mind's Eye / 06. Joker & the Thief / 07. Dimension / 08. Where Eagles Have Been / 09. Apple Tree / 10. Tales from the Forest of Gnomes / 11. Witchcraft / 12. Vagabond

Download – Wolfmother – Wolfmother (2005)

Obs: caso alguém disponha do link pra download do DVD, favor notificar a gerência via comentários.

Abraço!

Sugestão de Playlist:

1. Wolfmother - Colossal
2. NOFX - We ain't shit
3. João Gilberto - Desafinado
4. George Harrison - Let is down
5. Desert Sessions - Teens of Thailand

quinta-feira, 6 de março de 2008

You Gotta Be Rational

História curta para um fenômeno que está se disseminando pela internet. Legal ver como as coisas andam rápido.

Tim Maia Racional já caiu nas graças do povo. Qualquer cara um pouco informado já ouviu falar na fase "obscura" do nosso síndico, e deve saber como é musicalmente rico esse período (1975 -1977). Durante um bom tempo, essas pérolas ficaram escondidas por trás de vinis raríssimos, que custavam pra mais de 300 reais, e ninguém achava em lugar nenhum. Eles teriam sido lançados pelo então novo selo de Tim Maia, o Seroma. Algum tempo depois, quando as faixas já estavam espalhadas pela web e na boca da juventude universitária, a Trama viu a oportunidade e lançou oficialmente o primeiro volume desse material. Ao que me consta, o segundo ainda não possui versão oficial.

Até aqui todo mundo sabe. Mas a novidade é que há algum tempo surgiram especulações de que haviam faixas perdidas dessa fase racional, ainda não lançadas. Sinceramente não me lembro onde vi essa história, mas há 2 dias, logo nos comentários da postagem abaixo, meu amigo Ferrite me disse pra dar uma olhada no que era a última postagem dele. Ali encontrei o link pra baixar o que seria o Tim Maia Racional Volume 3, além da história completa. Pra facilitar, vou resumir.

Universo em Desencanto é uma espécie de seita criada por Manuel Jacinto Coelho, conhecido entre os adeptos como o Grão Mestre Varonil. Não vou entrar no mérito da filosofia da seita, melhor que você veja aqui. Anyway, o Tim se tornou adepto e passou a divulgar a Cultura Racional através da sua música, o que gerou os 2 discos.

Como explica o Bruno do Eu Ovo, havia um hiato na numeração dos discos "Cultura Racional" da Seroma. O Volume 1 era de fato o primeiro, mas o Volume 2 na verdade era catalogado como o terceiro. Acontece que entre os dois discos, o Tim lançou um compacto com marchinhas, intitulado Compacto Racional, transbordando conteúdo racional. Para quem conhece os discos, é possível encontrar algumas semelhanças (inclusive na faixa O Grão mestre Varonil). Até agora, esse compacto era novidade para mim, mas esse ainda não é de fato o Volume 3 de Tim Maia Racional.

Diz a boca pequena, que o Tim gravou o Racional 3 com uma outra banda. Mas depois de ter descoberto que a Seita a que pertencia tinha interesses duvidosos, resolveu romper, e o material ficou esquecido. Ai a história fica mais interessante, como conta o produtor musical, Eduardo Marote.

Em meados de 2000, o produtor trabalhava com o engenheiro de som William Junior, que já tinha inclusive trabalhado com o próprio Tim. William não tinha conhecimento dos discos da fase Racional, mas quando o produtor lhe mostrou o material, ele teve um estalo. Seu pai tinha um estúdio na década de 70 no Rio, e aparentemente, sobraram por lá umas fitas que tinham sonoridade semelhante ao que ele tinha acabado de ouvir nos LPs de Eduardo.

Mais do que rápido, eles pegaram as fitas, deram um rápido tratamento, e Marote se encarregou de mixar o material ali contido. Passou as 5 faixas que haviam para alguns colegas, e depois deixou o material guardado. Isso há 8 anos. Alguns dias atrás, ele descobriu pelo Trabalho Sujo, que as gravações tinham caído na internet, mas não achou ruim. Agora, ele quer mais que a coisa seja divulgada, já que nenhuma gravadora demonstrou interesse no material até agora. E isso tudo tem cerca de 2 semanas, pelo que entendi.

É interessante notar como a coisa se espalha rápidamente. Dos amigos de Dudu, a coisa foi parar no Esquerda Festiva, que por sua vez deu a dica ao blog Trabalho Sujo, que serviu pra Dudu se ligar do que tava acontecendo. A partir daí vários Blogs, como o Eu Ovo divulgaram a parada, e ai o Gabriel Reis, que provavelmente pegou o som de algum desses blogs, deu a letra pro Ferrite, que deu a letra pra mim. Agora eu estou dando a letra pra vocês, que poderão dar a letra pra mais gente. Louco né? Isso em pouco mais de 2 semanas.

Enfim, seguem abaixo os Downloads, que é o que importa. Tem o famigerado Volume 3, o Compacto Racional, e de lambuja um outro compacto lançado pela Odeon em 1977, com faixas consideradas bônus dos LPs Cultura Racional 1 e 2. Curioso é notar que a música Ela Partiu, desse compacto, serviu de base pro Racionais MC's lançar um dos seus primeiros sons, O Homem na Estrada.

Fico por aqui, mas lanço de antemão que o material aqui é de ótima qualidade. Muito Groove, pegadas brilhantes e o Tim arrebentando no Vocal. Vale a pena.
Sem mais, ai vai.

Aproveitem!

Abraço,

Sugestão de Playlist

1. Tim Maia (Racional) - You Gotta be Rational
2. Good Riddance - Fertile Fields
3. Canned Heat - Same all over
4. Frank Zappa - Camarillo Brillo
5. Tom Jobim & Elis Regina - Só tinha de ser com você

segunda-feira, 3 de março de 2008

Comentário sobre a postagem abaixo

Este Post é apenas um introdução do que vem logo abaixo.

A proposta desse blog sempre foi difundir a boa música, separar as pérolas do lixo, e outras coisas que estão escritas ai no Header. Com o passar do tempo, essa idéia foi amadurecendo, até porquê o conceito de boa música é extremamente discutível, pois trata-se de opinião pessoal. Hoje, além de disseminar as pérolas perdidas, buscamos trazer à tona coisas novas também, e acima de tudo, atiçar o interesse das pessoas em conhecer coisas novas, ler e escrever. Dessa maneira, alguns de nossos amigos escreveram textos e nós os publicamos, porquê a idéia é essa mesmo.

Sobre o próximo texto o que eu tenho a dizer é que ele é muito construtivo. Não porque trata de uma banda fabulosa (na minha opinião, uma banda mediana), mas porquê ele nos faz refletir sobre uma coisa muito comum entre as pessoas que gostam de música: o preconceito.
Sim, existe um preconceito dentro da música, e isso existe pela forma como entramos em contato com ela. Os veículos (Televisão, Rádio, etc) trazem apenas uma faceta, um hit de cada banda por vez, e nós formamos a nossa opinião ouvindo apenas a parte, não o todo. Além disso, o visual muitas vezes sobrepõe o trabalho das bandas, e dai surgem rótulos como "Emo" e "Indie" que não necessáriamente se referem ao gênero musical.

As bandas fazem a parte delas e sobrevivem da venda da sua música. Por ser hoje um produto, esta música é lançada aos veículos como um Teaser, um aperitivo. E para que as pessoas se interessem e comprem, é necessário que o aperitivo seja do gosto da maioria (leia-se, Pop). O fato é que muitas vezes o Pop não é ruim, mas o rótulo atrapalha a audição entre os mais aprofundados no universo musical. O que sobra de todo esse processo é o preconceito.
Enfim, soma-se à filosofia do Blog a idéia de quebrar alguns desses preconceitos que todos nós temos (eu inclusive) e tentar diminuir essa segregação que existe em um dos mais belos universos artísticos. Quanto ao post abaixo, fica a opinião do Pedro Martins (o Pepê), e a minha nos respectivos comentários.

Boa leitura!

All The Right Reasons

Conforme citado no post acima, o texto é de autoria de Pedro Martins, o Pepê.

Saudações, colegas do restrito Universo dos apreciadores da sobrevivente música de qualidade ao redor da nossa pequena bola chamada Terra. Primeiramente gostaria de me apresentar: sou Pedro, mais conhecido como Pepê. Sou escorpiano, paulistano, guitarrista e um cara legal! “Segundamente”, gostaria de agradecer ao caríssimo amigo Danilo pela abertura à minha humilde postagem e “palpitagem” no território musical, além de deixar registrada minha admiração pela bela iniciativa na confecção desse fenômeno de muito bom senso que se tornou o 115db.
Deixando de lado a rasgação de seda e falando do que realmente importa, ao longo deste post debutante da minha participação - espero eu - construtiva no blog, gostaria de chamar a atenção para uma banda que recentemente me surpreendeu. Você já ouviu falar em Nickelback, certo?! Quem não ouviu? Como não ter ouvido se você já se pegou cantarolando pelo menos uma vez uma musiquinha-chiclete dos caras, como o primeiro grande sucesso How You Remind Me, só porque ela estava tocando nas rádios ininterruptamente e lhe fez pensar “Porra! Parece sempre a mesma pop music ‘legalzinha’, mas cansativa”. Não lhe tiro a razão, leitor. Não quanto aos singles. Mas julgaria minimamente preconceituoso da vossa parte achar que Chad Kroeger, guitarrista/vocalista/frontman/compositor da banda/já eleito o rockeiro mais feio do mundo, é um mero seguidor das tão conhecidas “fórmulas para hits de sucesso”.

Estava eu, despretensiosamente a coçar meu saco no MSN quando o meu querido mestre, o Sr. Daniel Prado, professor de guitarra, me disse “Cara, você precisa ouvir isso!” e me encaminhou o arquivo da música Animals. Pensei “Pô, o Daniel é um cara de bom gosto. Acho que devo averiguar”. Ao ouvir a música pela primeira vez, senti uma sensação incrível de satisfação, sem nenhuma conotação sexual, porém, muito forte. A música não era nada da imagem que eu tinha feito há tempos do Nickelback!

O CD All The Right Reasons, último disco de estúdio deles até então, lançado em 2005, que contém a música previamente citada, assim como os singles Photograph, Far Away (com seu meloso clipe sobre o bombeiro que não morre) e Rockstar, contém também composições que desfazem qualquer visão de banda “pop-rock-safado-chiclete-seguidora-de-fórmulas-putz-que-saco” já formada por muitos sobre esses rapazes canadenses. A exemplo dessas composições encontram-se a própria Animals, com grande força a personalidade instrumental, principalmente por parte da bateria e do riff de guitarra na introdução - A primeira faixa do disco Follow You Home, com evidentes referências ao estilo simpatizante da country music da banda, além de solos de bom gosto com uso de slides e tappings (para bom guitarrista, palavras difíceis bastam) e o vocal gritado e rasgado de Chad - Fight For All The Wrong Reasons, a segunda faixa, com distorções e levadas de peso e uma ponte que abusa de efeitos que beiram até mesmo o psicodelismo nos vocais e na volta triunfal ao refrão - Next Contestant com riffs muito bem formulados - Side Of A Bullet com uma nítida referência aos instrumentais de bandas de metal e trash como o Metallica (em especial) e harmônicos à la Zakk Wylde. Isso tudo além da bem humorada Rockstar e a interessante composição Savin' Me. '

Se teve alguma vez em que mudei drasticamente minha opinião sobre uma banda, foi com esse álbum, que passei a julgar de muita qualidade, tanto quanto aos caras enquanto músicos quanto às produções caprichadas e fortes de todas as faixas, incluindo até mesmo os singles, que por mais que eu não simpatize com Photograph, por exemplo, sei que é um pop de boa qualidade. Mas não é só o que a banda sabe fazer, mas sim o que eles descobriram para viver, e assim reservar as boas composições para a galera realmente interessada em “descobrir” quem realmente é o Nickelback.

Novamente agradecendo a janela cedida pelo amigo Danilo para eu me intrometer por aqui, espero ter sido útil e incentivado ao amigo leitor a ouvir mesmo esse som, porque vale a pena, ainda mais para os apreciadores do bom rock´n roll contemporâneo, seja com ou sem suas pitadas de pop, afinal, quem disse que pop precisa ser ruim? Nesse caso existe, mas não é sem-vergonha como se imagina entre os ouvintes de rádio.

Tracklist - All The Right Reasons – Nickelback

1. Follow You Home
2. Fight For All The Wrong Reasons
3. Photograph
4. Animals
5. Savin´ Me
6. Far Away
7. Next Contestant
8. Side Of A Bullet
9. If Everyone Cared
10. Someone That You´re With
11. Rockstar


Grande abraço,

Pepê.

Sugestão de Playlist:

1. Nickelback – Animals
2. Oswaldo Montenegro - Bandolins
3. Arnaldo Antunes – Fora de Si
4. Clube do Balanço – Paz e Arroz
5. Blue Man Group – Rods And Cones